O fornecimento global de café aperta-se face a choques climáticos e pressões tarifárias

Futuros de café subiram na quinta-feira à medida que várias pressões do lado da oferta convergiram no mercado. Os futuros de café arábica de março subiram +1,80 pontos (+0,48%) para fechar a sessão, enquanto os de robusta de janeiro na ICE dispararam +115 pontos (+2,55%), marcando um pico de 2 semanas. A dupla alta refletiu uma combinação de fraqueza do dólar, que desencadeou coberturas de posições vendidas em arábica, e preocupações crescentes com o clima no Vietname, o maior produtor mundial de robusta.

Disrupções Climáticas Aumentam Preocupações com a Oferta Regional

A colheita de café no Vietname enfrenta obstáculos, pois chuvas intensas atingiram as principais zonas de cultivo do país. A província de Dak Lak, que sustenta a produção de café do Vietname, experimentou atrasos nas operações de colheita, com previsões de chuvas adicionais até a próxima semana — um cenário que ameaça a qualidade e quantidade da produção. Enquanto isso, o panorama do café no Brasil apresentou uma imagem mista: previsões de chuvas substanciais em regiões-chave de cultivo no meio da semana inicialmente pressionaram os preços devido às implicações positivas para o desenvolvimento da safra. No entanto, um relatório meteorológico posterior indicou que Minas Gerais, maior centro de produção de arábica do Brasil, recebeu apenas 19,8 mm de chuva durante a semana até 14 de novembro — apenas 42% da norma histórica — levantando dúvidas sobre a adequação da umidade.

As condições regionais divergentes reforçam como a variabilidade climática continua moldando a ação dos preços. A produção de café do Vietname para 2025/26 deve subir 6% ano a ano, atingindo 1,76 milhão de toneladas métricas, ou aproximadamente 29,4 milhões de sacos, atingindo um máximo de 4 anos se as condições permanecerem estáveis. As exportações de café do Vietname de janeiro a outubro de 2025 já aumentaram 13,4% em relação ao ano anterior, para 1,31 milhão de toneladas métricas, sinalizando um forte impulso de oferta por parte do principal exportador de robusta.

Política Tarifária dos EUA Redefine Fluxos de Importação e Estoques

O regime tarifário imposto pela administração Trump alterou fundamentalmente os padrões de importação de café, especialmente para suprimentos brasileiros. Enquanto a administração eliminou tarifas sobre certas commodities não produzidas nos EUA, incluindo café, a tarifa sobre o café brasileiro permanece em 40%, vinculada a alegações de “emergência nacional”. Essa estrutura de tarifas duplas criou considerável atrito na compra de café nos EUA.

As exportações brasileiras de café para os EUA despencaram sob esse regime. As compras dos EUA de café brasileiro de agosto a outubro caíram 52% em relação ao ano anterior, para apenas 983.970 sacos, comparado ao mesmo período do ano passado. Cerca de um terço do café não torrado dos EUA historicamente vem do Brasil, tornando esse impacto tarifário economicamente significativo. O peso das tarifas levou os importadores americanos a anularem novos contratos de café brasileiro, reduzindo substancialmente os estoques do mercado americano.

Uma dimensão muitas vezes negligenciada no debate tarifário é se algum café é realmente cultivado nos Estados Unidos. A resposta: mínimo. Os EUA continentais não possuem o clima tropical nem as condições de altitude necessárias ao cultivo de café; apenas o Havaí produz café comercialmente em escala, e os volumes permanecem insignificantes em relação à demanda global. Essa realidade reforça por que as políticas tarifárias sobre suprimentos do Brasil e do Vietname têm impacto desproporcional no mercado — a produção doméstica não consegue compensar as restrições às importações, deixando os compradores dos EUA totalmente dependentes de fontes estrangeiras tarifadas.

Compressão de Estoques na ICE Sinaliza Escassez de Oferta

A desaceleração nas importações impulsionada por tarifas manifesta-se de forma acentuada nos estoques de café registrados. Os estoques de arábica monitorados pela ICE caíram para um mínimo de 1,75 anos, de 398.645 sacos, no encerramento de quinta-feira, enquanto as posições de robusta na ICE caíram para um mínimo de 4 meses, de 5.640 lotes. Essa compressão de estoques — refletindo menos embarques brasileiros entrando nos portos dos EUA — contrasta com as normas históricas e aumenta o risco de alta nos preços se a oferta se tornar ainda mais apertada.

A Organização Internacional do Café informou em 7 de novembro que as exportações globais de café para o ano de comercialização atual (outubro-setembro) caíram 0,3% em relação ao ano anterior, para 138,658 milhões de sacos. Apesar de um crescimento incremental em algumas regiões produtoras, os volumes totais de exportação permanecem limitados em relação à demanda subjacente.

Previsões de Produção Apontam para Trajetórias Divergentes

A situação da produção no Brasil continua complicada. A Conab, agência oficial de previsão de safra do Brasil, revisou sua estimativa de arábica para 2025 em setembro, reduzindo-a em 4,9%, para 35,2 milhões de sacos, de uma previsão anterior de maio de 37,0 milhões de sacos. A produção total de café do Brasil em 2025 caiu 0,9%, para 55,2 milhões de sacos, em relação à estimativa de maio de 55,7 milhões. No entanto, olhando para frente, a StoneX projetou na semana passada que a produção de café do Brasil em 2026/27 atingirá 70,7 milhões de sacos, incluindo 47,2 milhões de sacos de arábica — um aumento de +29% em relação ao ano anterior, assumindo condições climáticas normais e menor pressão na safra.

O Serviço de Agricultura Estrangeira do USDA previu em junho que a produção global de café de 2025/26 aumentará 2,5% em relação ao ano anterior, atingindo um recorde de 178,68 milhões de sacos. Dentro desse total, a produção de arábica deve diminuir 1,7%, para 97,022 milhões de sacos, enquanto a de robusta sobe 7,9%, para 81,658 milhões de sacos. A produção de Vietname para 2025/26 deve atingir 31 milhões de sacos, um máximo de 4 anos, enquanto a produção do Brasil deve subir 0,5%, para 65 milhões de sacos. Notavelmente, as reservas globais de café ao final de 2025/26 estão previstas para aumentar 4,9%, para 22,819 milhões de sacos, em relação a 21,752 milhões de sacos em 2024/25.

Conclusão

Os preços do café permanecem sustentados por uma combinação de pressões de oferta — as disrupções climáticas no Vietname, a desaceleração das exportações devido às tarifas no Brasil e estoques historicamente baixos na ICE. Embora as previsões de produção de médio prazo sugiram uma normalização, as dinâmicas de mercado de curto prazo favorecem preços mais altos, à medida que os compradores navegam por fontes de abastecimento limitadas por tarifas e incertezas climáticas.

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