O mercado de futuros de café apresenta hoje uma divergência clara, com o café arábica de março a subir +0,15 pontos (+0,04%), mas o café robusta de janeiro a cair -15 pontos (-0,34%), refletindo a complexa interação entre as dinâmicas regionais de oferta e os movimentos cambiais que moldam a perspetiva da commodity.
O Real Brasileiro oferece suporte temporário ao café arábica
A força do real brasileiro face ao dólar americano—atingindo uma máxima de 2 semanas—está a oferecer suporte imediato aos preços do café arábica hoje. Uma moeda local mais forte desencoraja os exportadores brasileiros de venderem o seu café a níveis de preço internacionais atuais, apertando naturalmente a oferta disponível nos mercados globais. No entanto, este impulso cambial opera num contexto de desafios fundamentais de oferta que, em última análise, determinarão a direção dos preços.
Aumento de oferta do Vietname pesa sobre os preços do café robusta
O setor de café do Vietname está a acelerar a produção a um ritmo que sobrecarrega os preços do robusta. A Associação de Café e Cacau do Vietname informou na terça-feira que 10% da colheita de robusta do Vietname foi concluída, com previsões indicando que o tempo mais seco que se avizinha acelerará ainda mais o processo de colheita. As exportações de café de janeiro a outubro de 2025 do Vietname aumentaram +13,4% em relação ao ano anterior, atingindo 1,31 milhões de toneladas métricas, sinalizando uma participação robusta no mercado. Mais preocupante para os preços, a produção de café de 2025/26 do Vietname está projetada em 1,76 milhões de toneladas métricas—um máximo de 4 anos—representando um aumento de +6% em relação ao ano anterior. Se o clima permanecer favorável, a produção de robusta do país poderá superar a da última temporada em 10%.
Dinâmicas de clima e inventário criam quadro misto para o café arábica
A maior região produtora de café arábica do Brasil, Minas Gerais, recebeu apenas 20,4 mm de chuva durante a semana encerrada a 28 de novembro—apenas 39% da média histórica—um padrão seco que tecnicamente apoia os preços do arábica ao restringir a oferta. No entanto, esse suporte está a ser compensado pela pressão nos inventários. Os estoques de arábica na ICE caíram para um mínimo de 1,75 anos, com 398.645 sacos a 20 de novembro, enquanto os armazéns de robusta atingiram um mínimo de 11 meses, com 4.115 lotes hoje. A forte redução de inventários reflete um efeito cascata das tarifas dos EUA: os compradores americanos abandonaram novos contratos de café brasileiro após a implementação das tarifas, fazendo com que as compras dos EUA de café brasileiro (período agosto-outubro) caíssem 52% em relação ao ano anterior, para apenas 983.970 sacos. Como o Brasil fornece aproximadamente um terço do café não torrado dos EUA, esta perturbação no comércio está a remodelar fundamentalmente a distribuição global de inventários.
Previsões de produção sugerem abundância de oferta de café no futuro
Olhando para o futuro, o mercado de café enfrenta uma expansão significativa de oferta. A StoneX previu a 19 de novembro que o Brasil produzirá 70,7 milhões de sacos na campanha de 2026/27—incluindo 47,2 milhões de sacos de arábica, um aumento de +29% em relação ao ano anterior. O Serviço de Agricultura Estrangeira do USDA projetou em junho que a produção mundial de café para 2025/26 aumentará +2,5% em relação ao ano anterior, atingindo um recorde de 178,68 milhões de sacos, embora a produção de arábica deva diminuir -1,7% para 97,022 milhões de sacos, enquanto o robusta sobe +7,9% para 81,658 milhões de sacos. Esses aumentos de produção indicam que a atual escassez de inventários é temporária, pesando, em última análise, nas expectativas de preços do arábica a médio prazo.
Mudanças políticas acrescentam complexidade ao panorama de oferta global
A aprovação pelo Parlamento Europeu, na quarta-feira passada, de um adiamento de 1 ano para o regulamento de desmatamento (EUDR) introduz uma incerteza adicional. Ao adiar a aplicação, os países da UE podem continuar a importar produtos agrícolas, incluindo café, de regiões que enfrentam desmatamento na África, Indonésia e América do Sul. Esta pausa regulatória mantém efetivamente os estoques de café mais abundantes do que seriam de outra forma, exercendo uma pressão descendente sobre os preços. No entanto, a Organização Internacional do Café informou que as exportações globais de café para o atual ano de campanha caíram -0,3% em relação ao ano anterior, para 138,658 milhões de sacos, sugerindo que, apesar dos aumentos de produção, os fluxos comerciais reais permanecem limitados.
A conclusão
O café arábica está a navegar por forças conflitantes: a força temporária do real brasileiro e os estoques restritos a curto prazo oferecem suporte, mas as próximas expansões de produção e o clima favorável no Vietname sugerem que o crescimento da oferta acabará por dominar a direção dos preços. O café robusta enfrenta uma pressão mais direta devido à colheita acelerada do Vietname e às previsões de ganhos de produção, criando perfis de risco divergentes entre as duas principais variedades de café.
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Mercado Global de Café em Ponto de Viragem: Forte Real Brasileiro Impulsiona Café Arábica Enquanto o Aumento de Oferta do Vietname Pressiona o Robusta
O mercado de futuros de café apresenta hoje uma divergência clara, com o café arábica de março a subir +0,15 pontos (+0,04%), mas o café robusta de janeiro a cair -15 pontos (-0,34%), refletindo a complexa interação entre as dinâmicas regionais de oferta e os movimentos cambiais que moldam a perspetiva da commodity.
O Real Brasileiro oferece suporte temporário ao café arábica
A força do real brasileiro face ao dólar americano—atingindo uma máxima de 2 semanas—está a oferecer suporte imediato aos preços do café arábica hoje. Uma moeda local mais forte desencoraja os exportadores brasileiros de venderem o seu café a níveis de preço internacionais atuais, apertando naturalmente a oferta disponível nos mercados globais. No entanto, este impulso cambial opera num contexto de desafios fundamentais de oferta que, em última análise, determinarão a direção dos preços.
Aumento de oferta do Vietname pesa sobre os preços do café robusta
O setor de café do Vietname está a acelerar a produção a um ritmo que sobrecarrega os preços do robusta. A Associação de Café e Cacau do Vietname informou na terça-feira que 10% da colheita de robusta do Vietname foi concluída, com previsões indicando que o tempo mais seco que se avizinha acelerará ainda mais o processo de colheita. As exportações de café de janeiro a outubro de 2025 do Vietname aumentaram +13,4% em relação ao ano anterior, atingindo 1,31 milhões de toneladas métricas, sinalizando uma participação robusta no mercado. Mais preocupante para os preços, a produção de café de 2025/26 do Vietname está projetada em 1,76 milhões de toneladas métricas—um máximo de 4 anos—representando um aumento de +6% em relação ao ano anterior. Se o clima permanecer favorável, a produção de robusta do país poderá superar a da última temporada em 10%.
Dinâmicas de clima e inventário criam quadro misto para o café arábica
A maior região produtora de café arábica do Brasil, Minas Gerais, recebeu apenas 20,4 mm de chuva durante a semana encerrada a 28 de novembro—apenas 39% da média histórica—um padrão seco que tecnicamente apoia os preços do arábica ao restringir a oferta. No entanto, esse suporte está a ser compensado pela pressão nos inventários. Os estoques de arábica na ICE caíram para um mínimo de 1,75 anos, com 398.645 sacos a 20 de novembro, enquanto os armazéns de robusta atingiram um mínimo de 11 meses, com 4.115 lotes hoje. A forte redução de inventários reflete um efeito cascata das tarifas dos EUA: os compradores americanos abandonaram novos contratos de café brasileiro após a implementação das tarifas, fazendo com que as compras dos EUA de café brasileiro (período agosto-outubro) caíssem 52% em relação ao ano anterior, para apenas 983.970 sacos. Como o Brasil fornece aproximadamente um terço do café não torrado dos EUA, esta perturbação no comércio está a remodelar fundamentalmente a distribuição global de inventários.
Previsões de produção sugerem abundância de oferta de café no futuro
Olhando para o futuro, o mercado de café enfrenta uma expansão significativa de oferta. A StoneX previu a 19 de novembro que o Brasil produzirá 70,7 milhões de sacos na campanha de 2026/27—incluindo 47,2 milhões de sacos de arábica, um aumento de +29% em relação ao ano anterior. O Serviço de Agricultura Estrangeira do USDA projetou em junho que a produção mundial de café para 2025/26 aumentará +2,5% em relação ao ano anterior, atingindo um recorde de 178,68 milhões de sacos, embora a produção de arábica deva diminuir -1,7% para 97,022 milhões de sacos, enquanto o robusta sobe +7,9% para 81,658 milhões de sacos. Esses aumentos de produção indicam que a atual escassez de inventários é temporária, pesando, em última análise, nas expectativas de preços do arábica a médio prazo.
Mudanças políticas acrescentam complexidade ao panorama de oferta global
A aprovação pelo Parlamento Europeu, na quarta-feira passada, de um adiamento de 1 ano para o regulamento de desmatamento (EUDR) introduz uma incerteza adicional. Ao adiar a aplicação, os países da UE podem continuar a importar produtos agrícolas, incluindo café, de regiões que enfrentam desmatamento na África, Indonésia e América do Sul. Esta pausa regulatória mantém efetivamente os estoques de café mais abundantes do que seriam de outra forma, exercendo uma pressão descendente sobre os preços. No entanto, a Organização Internacional do Café informou que as exportações globais de café para o atual ano de campanha caíram -0,3% em relação ao ano anterior, para 138,658 milhões de sacos, sugerindo que, apesar dos aumentos de produção, os fluxos comerciais reais permanecem limitados.
A conclusão
O café arábica está a navegar por forças conflitantes: a força temporária do real brasileiro e os estoques restritos a curto prazo oferecem suporte, mas as próximas expansões de produção e o clima favorável no Vietname sugerem que o crescimento da oferta acabará por dominar a direção dos preços. O café robusta enfrenta uma pressão mais direta devido à colheita acelerada do Vietname e às previsões de ganhos de produção, criando perfis de risco divergentes entre as duas principais variedades de café.