Nos últimos anos, conversando com os frens da Turquia, Argentina e Nigéria, acabamos sempre por tocar num assunto que dá dor de cabeça - a inflação.

O salário acabou de entrar? Rápido, gaste. Por quê? Porque em duas semanas os preços vão subir de novo. A primeira coisa a fazer com a moeda local não é pensar em como investir, mas sim trocar rapidamente por dólares ou USDT, para garantir o poder de compra. Isso não é uma piada, é a vida real.

Os dados já mostram o problema. O volume de transações com stablecoins na Turquia pode chegar a cerca de 63 bilhões de dólares por ano. Pense nisso, com uma taxa de inflação disparando para mais de 30% e a moeda local desvalorizando loucamente, como é que as pessoas não ficariam preocupadas? Na Nigéria a situação é ainda mais grave, com mais de 54 milhões de pessoas usando criptomoedas, mesmo com políticas que não são muito amigáveis. E na Argentina, nem se fala, a inflação de três dígitos se tornou normal, e a atividade na blockchain basicamente depende das stablecoins.

Quanto mais olho, mais sinto que as stablecoins já deixaram de ser uma "ferramenta de especulação" nesses lugares. Elas se tornaram uma necessidade básica para a sobrevivência. O valor de mercado das stablecoins globalmente já atingiu a casa dos 250 bilhões de dólares, e o volume de transferências na blockchain a cada mês é da ordem de trilhões. Pagamentos de salários, transferências internacionais, economia do dia a dia — essas são tarefas que deveriam ser feitas pelos bancos e pela SWIFT, mas agora estão sendo silenciosamente assumidas.

Mas, para ser sincero, a experiência técnica atual realmente não é perfeita. As taxas de Gas na mainnet do Ethereum durante os picos podem fazer você sentir dor no bolso, e aqueles populares Layer 2, quando congestionados, também podem deixar as pessoas desesperadas. Muitas pessoas, para economizar nas taxas, só conseguem juntar transferências que levariam vários dias ou até semanas, esperando acumular o suficiente para processar tudo de uma vez. Essa experiência claramente ainda está longe da verdadeira "adoção em larga escala".