Opinião: "Os Michael Saylors" não querem que o bitcoin ameace o sistema existente

O defensor do software livre e YouTuber Luke Smith criticou o estado atual do bitcoin. Segundo ele, a primeira criptomoeda se afastou dos princípios originais e se transformou em uma ferramenta de especulação.

Luke Smith é um tecnoblogger que se especializa em temas de software livre, privacidade e minimalismo digital. Há duas semanas, ele quebrou um silêncio de dois anos no seu canal do YouTube e desde então tem publicado regularmente novos vídeos.

Inimigo do perfeito

Na opinião de Smith, qualquer tecnologia acaba por ser "capturada" ao longo do tempo por pessoas que gostam de certos aspectos dela, mas estão longe da filosofia original.

«Qualquer projeto tecnológico, independentemente da pureza dos motivos iniciais — seja GNU/Linux ou bitcoin — inevitavelmente será capturado, digamos assim, por interesses indiferentes. É simplesmente um fato da vida», observou o blogueiro.

Ele citou a comunidade Linux como exemplo: muitos usuários valorizam a modificabilidade do sistema operacional e a disponibilidade de software livre, mas não levam esses princípios até a sua conclusão lógica. Eles seguem o ditado "não deixe que a perfeição seja inimiga do bom", no entanto, na opinião de Smith, também não se pode permitir que o bom se torne inimigo do perfeito.

Dos criptógrafos a Michael Saylor

Smith destacou as mudanças radicais na filosofia do bitcoin desde a sua criação:

«A base era o movimento criptoanarquista*, que buscava criar um sistema financeiro independente do controle estatal. No entanto, quando olho para o bitcoin na sua forma atual, sinto um profundo pessimismo».*

O blogueiro criticou o desvio do foco da libertação dos indivíduos para a aceitação em massa e a integração com o sistema financeiro tradicional.

"Você vê figuras como Michael Saylor* que se tornou o "rosto do Bitcoin". Todas as atenções estão voltadas para o gráfico crescente, para o bitcoin como commodity. O objetivo é envolver todos – governos, sistema financeiro existente – em vez de capacitar as pessoas ou criar algo que realmente as liberte", disse Smith.

Segundo ele, esses ideais podem receber atenção nas palavras, mas não há intenção verdadeira. Pessoas como Saylor não querem que o bitcoin seja "perigoso" — ou seja, que represente uma ameaça para o sistema existente e cause mudanças reais, explicou.

Smith chamou a atenção para o paradoxo: aqueles que compreendem o valor do software livre, da privacidade e de criptomoedas como o Monero não se sentem à vontade para defender ativamente esses projetos. Eles não querem "impor isso à força" ou defender suas crenças de forma decidida. Ao mesmo tempo, aqueles que diluem os ideais originais dos projetos não sentem remorsos semelhantes:

«Eles estão tentando reverter a definição de bitcoin, transformando-o de dinheiro digital em algo que você simplesmente mantém, observando o aumento de valor. Isso nunca foi seu objetivo».

Anteriormente, no âmbito da "Sociedade do Podcast", no canal do YouTube ForkLog, o cofundador da Allbridge.io, Andrei Velikiy, explicou que a indústria está passando por uma fase de "ludomania", onde as memecoins e modelos gamificados se tornaram uma nova realidade, enquanto os ideais de descentralização, privacidade e resistência à censura ficaram em segundo plano.