ZEC mantém a sua valorização — Que projetos de privacidade merecem destaque?

Nota editorial:

Com o contínuo desenvolvimento da tecnologia blockchain, a privacidade mantém-se como elemento central. Atualmente, o aumento da atividade on-chain e do número de utilizadores coloca novamente a privacidade no centro das discussões estratégicas.

Desde o idealismo dos cypherpunks até às implementações concretas como zero-knowledge proofs, fully homomorphic encryption e multi-party computation, e passando pelo amadurecimento do ecossistema de aplicações orientadas para o utilizador, vivemos uma nova fase de “reinvenção da privacidade”.

Este artigo pretende responder a uma questão essencial: Num universo blockchain onde cada ação é potencialmente registada, analisada e monitorizada, como protegemos o nosso espaço privado?

Segue o artigo original:

Encriptação e Privacidade: O Fundamento da Liberdade

A história mostra que a liberdade encontra sempre um caminho. No setor cripto, apostar na privacidade é apostar na liberdade.

Quem domina investigação on-chain e tem persistência, como ZachXBT, sabe que as transações cripto são rastreáveis. Este é um dado reconhecido por todo o mercado.

Atualmente, é possível identificar quem drena uma carteira, seja um indivíduo ou um grupo sofisticado que atua no universo cripto.

Sim, existem “maus casos”, mas só são revelados porque toda a atividade on-chain é pública.

Exatamente—um registo público é realmente público.

Se os utilizadores mais jovens desconhecem este facto, os veteranos têm-no bem presente: o Bitcoin—e todo o ecossistema cripto—nasceu do movimento cypherpunk, uma visão de sociedade aberta sustentada pela privacidade.

Esta visão inspirou a Digicash de David Chaum, moeda digital orientada para a privacidade que utilizava assinaturas cegas, e deu origem ao b-money de Wei Dai—um sistema de pagamentos anónimo e descentralizado, precursor das inovações digitais.

Satoshi elevou o conceito, integrando privacidade num registo totalmente transparente. O Bitcoin recorre a endereços pseudónimos e funções de hash—não a nomes reais ou dados de identidade—criando uma aparente anonimidade.

Porém, essa ilusão foi efémera. Com a ascensão dos smart contracts, a prioridade passou para a programabilidade e a privacidade foi secundarizada.

Com o novo impulso do setor cripto, voltamos à questão de fundo: será a privacidade ainda um princípio fundamental da cripto?

O debate estende-se hoje para lá do “envio e receção de fundos em registo público”, abrangendo todas as camadas das aplicações on-chain.

Ao longo deste artigo, analisamos o verdadeiro significado da privacidade na cripto, as suas dimensões, os produtos centrados na privacidade, os pontos críticos e a nossa visão sobre o futuro da privacidade cripto.

A discussão prossegue nas secções seguintes.

O Que Significa Privacidade no Universo Cripto?

A melhor forma de entender a privacidade é através das finanças tradicionais (TradFi).

Em TradFi, privacidade significa que os seus dados pessoais não são públicos—apenas instituições autorizadas lhes têm acesso. Engloba dados biométricos, históricos de transações, saldos e muito mais.

No setor cripto, privacidade significa proteger os dados pessoais dos utilizadores durante transações on-chain. Privacidade autêntica garante que os dados são visíveis e relevantes apenas para o utilizador ou entidades autorizadas.

Muitos confundem “privacidade” com “anonimato”. Embora o anonimato esteja associado à privacidade na cultura cripto, são conceitos distintos.

A privacidade oculta os detalhes da transação—montante, participantes, informação associada—enquanto o anonimato oculta as identidades dos intervenientes.

Exemplo ilustrativo: Zcash e Monero. Zcash recorre à criptografia (como zk-SNARKs) para ocultar montantes; Monero utiliza stealth addresses e ring signatures para pseudonimização de identidades.

Para efeitos deste artigo, tratamos privacidade como conceito que inclui anonimato.

Porque a privacidade é tão relevante para a cripto?

Como referido, o setor nasce do espírito cypherpunk—procura de privacidade e descentralização, com o objetivo de escapar ao controlo estatal e alcançar liberdade genuína.

Hoje, com a proliferação de empresas privadas de vigilância, o reforço dos interesses financeiros e os riscos acrescidos de abuso de dados por IA, o alerta para a privacidade intensifica-se.

Sem proteção da privacidade, os dados da blockchain podem revelar hábitos de consumo, distribuição de riqueza, doações políticas e redes de transação—informação que, se explorada indevidamente, pode ser alvo de manipulação ou abuso.

Outro ponto essencial: sem tecnologia de privacidade, a cripto não garante resistência à censura.

A privacidade protege pessoas e organizações de coerção, permitindo participação aberta e sem restrições nas finanças on-chain.

Também protege a segurança pessoal e dos dados em transações on-chain. Quando transações públicas expõem alvos de elevado valor, os utilizadores ficam sujeitos a riscos acrescidos de hacking, extorsão e ameaças físicas—situações cada vez mais comuns.

Privacy Enhancing Technologies (PETs)

Existem múltiplos caminhos para a privacidade, cada tecnologia pensada para cenários específicos, mas com objetivo comum: proteger a privacidade dos utilizadores e a segurança dos dados.

Cada tecnologia tem vantagens, compromissos e níveis de adoção próprios. Eis uma síntese não técnica das principais Privacy Enhancing Technologies (PETs):

1. Zero-Knowledge Proofs (ZK)

Zero-knowledge proofs permitem “provar algo sem revelar detalhes”.

Há duas partes: Prover (quem prova a afirmação) e Verifier (confirma sem aceder aos dados subjacentes).

ZK é tecnologia criptográfica de privacidade com dois formatos principais: zk-SNARKs (succinct non-interactive arguments of knowledge) e zk-STARKs (scalable transparent arguments of knowledge).

ZK viabiliza transações confidenciais (montantes ocultos), prova de ativos (sem exposição de dados sensíveis), verificações privadas de identidades descentralizadas, smart contracts privados e outras aplicações.

2. Ring Signatures / Ring Confidential Transactions (RingCT)

Moedas de privacidade com proteção por defeito recorrem a ring signatures. Monero é o caso clássico—o “dinossauro” das moedas de privacidade.

Ring signatures permitem transação em grupo, sem revelar o verdadeiro signatário, ocultando o remetente através da mistura de transações.

Este método é altamente eficaz para anonimato, protegendo utilizadores de rastreamento, mesmo por investigadores como ZachXBT.

A privacidade robusta da Monero levanta desafios de conformidade, como exclusões em exchanges e maior escrutínio regulatório. Por oposição, Zcash oferece opções transparentes (t-address) e protegidas (z-address), permitindo às exchanges cumprir normas apoiando apenas transações transparentes.

3. Fully Homomorphic Encryption (FHE)

FHE é técnica criptográfica que permite computação sobre dados encriptados sem desencriptação.

Utilizadores podem submeter dados sensíveis sem receio de exposição ao verificador.

FHE valoriza mais a privacidade do que o anonimato, mas é hoje das tecnologias mais robustas para privacidade on-chain.

4. Trusted Execution Environment (TEE)

TEE é solução de privacidade baseada em hardware, utilizando enclaves seguros nos processadores ou redes para proteger dados, através de chaves criptográficas que asseguram confidencialidade e integridade.

Exemplo: sistemas de reconhecimento facial em smartphones, onde os dados são captados, encriptados e processados dentro do TEE, garantindo que nunca saem em texto simples. Os dados são transformados em modelos matemáticos e armazenados para autenticação futura.

5. Multi-Party Computation (MPC)

Algumas operações cripto exigem colaboração. MPC foi criado para estes cenários.

Exemplos: produtos de IA que necessitam de múltiplos modelos para inferência, DAOs que pretendem governar sem expor votos, ou leilões on-chain com ofertas confidenciais—todos clássicos para MPC.

MPC permite que várias partes calculem uma função (assinatura, verificação de saldo, etc.) sem revelarem os inputs individuais.

Além das PETs descritas, há abordagens como misturadores, homomorphic encryption e composabilidade de privacidade—esta última combina várias ferramentas para reforçar a proteção.

Alguns projetos desenvolvem produtos com estas tecnologias; outros criam infraestruturas para suportar todo o ecossistema.

Projetos-Chave de Infraestrutura de Privacidade

Não existe solução única para privacidade cripto.

As equipas dedicam-se a diferentes dimensões das PET, desenvolvendo aplicações e casos de uso específicos. Eis projetos de referência em infraestrutura de privacidade:

1. Nillion

Já abordámos a tecnologia e aplicações da Nillion em detalhe—consulte para aprofundar.

Em resumo, @nillion está a construir confiança descentralizada para dados sensíveis. O “Blind Computer” utiliza várias PET—MPC para NilDB, TEE para inferência de IA (NilAI/NilCC)—para garantir segurança dos dados.

Nillion está a lançar aplicações inovadoras na sua infraestrutura, que iremos destacar.

2. Succinct

@SuccinctLabs destacou-se pelo airdrop; o verdadeiro valor está na tecnologia.

Succinct Labs avança com provas ZK, viabilizando geração de provas para qualquer software. Não é dedicada exclusivamente à privacidade, mas o SP1 ZK Virtual Machine pode suportar privacidade do lado do cliente.

Exemplo: Hibachi utiliza esta tecnologia para manter privadas as ordens—o operador (Hibachi) vê os dados, mas observadores externos não têm acesso.

3. Zama

@zama_fhe lidera FHE, suportando aplicações confidenciais.

Zama criou protocolo blockchain confidencial compatível com Solidity, permitindo trading privado em DEX, empréstimos confidenciais e tokenização com foco na privacidade.

4. Zcash

O “despertar” de Mert para @Zcash (ZEC) foi marcante este ano.

Zcash é pioneira em privacidade cripto, adotando encriptação ZK para pagamentos confidenciais peer-to-peer com zk-SNARKs para transações protegidas opcionais.

A tecnologia é simples, mas associada a tokenómica semelhante à do Bitcoin, devolvendo destaque à Zcash para os que acreditam no ethos cypherpunk.

5. Monero

Além da comunidade dedicada XMR, @monero é referência em tecnologia de privacidade.

Monero garante privacidade total nas transações através de:

(1) Ring signatures: mistura de signatários genuínos e fictícios para ocultar remetentes;

(2) Stealth addresses: geração de endereço único por transação, evitando ligação de carteiras;

(3) RingCT: compromissos criptográficos e provas de intervalo para ocultar montantes e evitar inflação.

Ao contrário de Zcash, a privacidade em Monero é obrigatória—não opcional—o que cria desafios regulatórios e exclusões em grandes exchanges.

6. Arcium

Privacidade não é solução universal, sobretudo ao nível da infraestrutura.

@Arcium compreende esta questão.

Arcium é rede de multi-party computation com vários protocolos. O Cerberus universal utiliza um modelo de segurança singular.

Cerberus opera sob modelo de “maioria desonesta” com deteção de fraude e abortos identificáveis. Basta um nó honesto para manter privacidade; nós desonestos são eliminados.

Este modelo contrasta com a maioria dos protocolos, que exigem “maioria honesta” (mais de 51 % de nós honestos).

Manticore, outro protocolo, é otimizado para IA e trabalha bem em ambientes permissionados, como treino de IA de confiança, embora com pressupostos de segurança menos exigentes.

Tal como Nillion, Arcium alimenta aplicações inovadoras de consumo, como veremos a seguir.

Projetos de Consumo em Infraestrutura de Privacidade

Uma das principais vantagens da privacidade cripto é o seu impacto direto—os utilizadores beneficiam destas soluções em produtos reais.

Sem necessidade de programação, estas aplicações de privacidade estão prontas a usar.

Eis as principais aplicações de privacidade orientadas para o utilizador:

1. Hibachi: Negociação de Contratos com Prioridade na Privacidade

Nem todos pretendem tornar públicas as suas posições ou registos de liquidação.

O caso de James Wynn, cujas posições em Hyperliquid se tornaram públicas e resultaram em liquidações dirigidas, ilustra a necessidade de privacidade em negociação de contratos on-chain.

@hibachi_xyz constrói uma arquitetura híbrida com tecnologia ZK da Succinct (SP1) e data availability da Celestia para validar central-limit order books (CLOB) em blobs da Celestia.

Hibachi também otimiza a velocidade de execução, atingindo apenas 5 ms de latência. Sem token por agora—um projeto a acompanhar.

2. NilGPT: Chatbot de IA com Prioridade na Privacidade

A tecnologia de IA permite interações avançadas, e a engenharia de prompts está cada vez mais refinada.

Muitos utilizadores partilham dados sensíveis com chatbots de IA, sem terem consciência de que as conversas podem ser monitorizadas por plataformas centralizadas como ChatGPT, Gemini e Grok.

NilGPT, desenvolvido sobre a infraestrutura de privacidade da Nillion, foi desenhado para proteger a confidencialidade das conversas. Pode interagir com liberdade, sabendo que os seus dados não são recolhidos nem analisados por terceiros.

É esta a missão de @nilgpt_: chatbot de IA com prioridade na privacidade, sobre a stack de computação confidencial da Nillion, garantindo conversas e dados protegidos sem recolha nem exposição de informação pessoal.

NilGPT utiliza Blind Compute Layer da Nillion para encriptar e processar dados em nós distribuídos, assegurando que nenhum agente acede às suas entradas ou saídas em texto simples.

3. Railgun: Escudo de Anonimato On-Chain

Para anonimato verdadeiro na blockchain, Railgun é uma escolha de topo, reconhecida pela abordagem centrada na privacidade.

@RAILGUN_Project é ecossistema de privacidade para chains compatíveis com Ethereum, recorrendo a encriptação ZK em transações privadas e DeFi—sem comprometer segurança nem composabilidade.

Railgun é totalmente descentralizado, governado pela Railgun DAO, e utiliza zk-SNARKs para encriptar saldos, transações e execução de contratos. Suporta Ethereum, Polygon, BSC e Arbitrum.

Ao contrário dos misturadores, Railgun assegura anonimato total via encriptação ZK, com integração fluida em aplicações e pools de liquidez.

4. Privy Home: Hub de Gestão de Carteiras com Prioridade na Privacidade

Privy é dos projetos cripto que mais se aproxima do ajuste produto-mercado.

Desenvolvido por @privy_io, Privy Home é camada de controlo e hub de gestão para carteiras integradas em aplicações cripto, oferecendo infraestrutura base para gestão segura de identidades e ativos.

Privy permite ao utilizador rastrear, financiar e gerir ativos de várias aplicações numa única plataforma, recorrendo a key sharding e TEE para segurança.

Simplifica a auto-custódia e interoperabilidade, tornando a gestão de carteiras mais eficiente e impedindo o acesso das aplicações às suas chaves.

5. Umbra: Modo Incógnito para Solana

Solana é atualmente plataforma de referência para entretenimento on-chain, com elevada atividade e maior escrutínio.

Aqui, @UmbraPrivacy acrescenta valor.

Umbra é protocolo de privacidade que implementa “modo incógnito” em Solana via rede confidencial da Arcium, permitindo transferências on-chain privadas e privacidade financeira real.

Umbra já suporta transferências privadas e planeia desenvolver hub DeFi de privacidade completo, com swaps privados, bridges Solana-Zcash e SDKs para carteiras e developers.

As funcionalidades da Umbra respondem às exigências dos utilizadores ativos que procuram privacidade em transações e gestão de ativos.

6. Zashi App: Gateway de Privacidade para Utilizadores Zcash

Para quem utiliza $ZEC, o próximo passo é recorrer a @zashi_app.

Zashi é carteira mobile da Electric Coin Co. (ECC), equipa fundadora de Zcash. O foco são transações privadas e protegidas em Zcash.

Esta carteira de auto-custódia permite enviar, receber e utilizar $ZEC livremente, sem intermediários ou vigilância.

Zashi ativa por defeito pagamentos protegidos, aproveitando a encriptação zero-knowledge da Zcash para privacidade end-to-end. É a porta de entrada mais simples para utilizadores Zcash.

A aplicação oferece interface intuitiva e fácil de utilizar.

7. Privacidade Não É Um Extra—É o Núcleo da Cripto

Os sistemas tradicionais apertam o cerco, mas a migração on-chain avança silenciosamente.

A adoção pode parecer lenta; o salto de zero para um é o mais exigente, mas de um para dez é exponencial. À medida que o setor amadurece e o envolvimento cresce, a privacidade—individual e coletiva—torna-se imperativa.

A privacidade não é um “nice-to-have”; é estrutural—valor fundamental que deve ser levado a sério, hoje e no futuro.

Infraestrutura-chave de privacidade está a ser implementada, com soluções já operacionais e comprovadas em aplicações reais.

A monitorização destas soluções integradas revela opções que respondem às necessidades do ecossistema on-chain, incluindo a possibilidade de garantir anonimato autêntico.

Se a história serve de referência, a liberdade prevalece sempre. No universo cripto, apostar na privacidade é apostar na liberdade.

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